A primeira coisa que penso sobre esse transtorno é que a polêmica sobre seu título poderia ter sido evitada se nele contivesse respostas, por mais simples que fossem, sobre duas perguntas básicas, que são: O que causa o transtorno, e o que o transtorno causa?
Pensando do ponto de vista das pessoas que o intitularam (TDAH), assim como DDA (distúrbio de déficit de atenção), me parece uma visão de fora para dentro, ou seja, de quem ouviu mais as reclamações sobre os portadores dessa doença mental crônica do que dos próprios portadores. Há o entendimento de que o título não tivesse uma explicação de difícil entendimento, ou seja, com termos científicos complicados demais para que pais e professores identificassem nas crianças, que na época eram o público alvo de estudos a esse respeito. Até faz sentido favorecer os não-portadores para que eles possam identificar o que lhes incomoda no comportamento de quem apresenta sintomas que eles não conseguiam lidar. Estamos falando de sintomas de desatenção e hiperatividade física em crianças e esse julgamento precipitado é no mínimo perigoso, ao meu ver. Por outro lado essa denominação propiciou uma enormidade de estudos acadêmicos, científicos, artigos, pesquisas e testes, que definitivamente colocaram o transtorno no mapa, o que é muito positivo. Porém, com a falta de clareza sobre as divergências entre sintomas e título, hoje, este mais confunde do que explica. Até mesmo se o TDAH é considerado doença mental se diverge e polemiza, mesmo que médicos psiquiatras tratem e mediquem, em muitos casos eles preferem não assumir o transtorno como doença e justificam suas perspectivas, cada um a sua maneira.
Assim, responder as duas perguntas iniciais desse texto, sem complicar demais nem de menos, posto que hoje sabemos que não estamos falando apenas de crianças e sim de que se trata de um transtorno que pode ser congênito e acompanha o enfermo desde o nascimento até o final de sua vida. Então podemos ser um pouco mais incisivos na construção da hipótese de um novo título. Respondendo uma pergunta de cada vez:
O que causa o transtorno? Podemos dizer, baseados em estudos científicos, que há um aumento da atividade de neurotransmissores transportadores de dopamina (hormônio da motivação) do CPF (córtex pré-frontal), causando obviamente, uma baixa, uma insuficiência dopaminérgica nessa região do cérebro que entre muitas funções tem a da cognição / execução. É interessante pensar no termo “insuficiência” para analisarmos essa perspectiva como a que vai justificar a resposta da segunda pergunta.
O que o transtorno causa? Se o cérebro não tem motivação suficiente para uma resposta comportamental funcional, ele precisa oferecer uma compensação, mesmo que em forma de sintomas primários, que são o excesso de pensamentos ligados a execução (hiperatividade cerebral e impulsividade). Esse excesso se dá com o aumento da velocidade de pensamentos ligados a execução. E, assim, a busca por motivação ganha uma oferta maior de possibilidades, contudo com consequências incomuns. Para refletir sobre “buscar motivação” é preciso tentar compreender que esse esforço parte da falta de motivação, então temos o “prazer” como um termômetro. Quando o “TDAH” encontra uma resposta dopaminérgica, ou melhor, uma recompensa prazerosa em alguma atividade, ele agarra com tudo, e quando não tem recompensa ele encontra desprazer.
Mas nem todos tem impulsividade… Será? Eles podem não demonstrar porque são empáticos e sabem que demonstrar a hiperatividade física é deselegante e mal vista pelos outros, assim como a falta de atenção, daí o título. A impulsividade, mesmo nos aparentemente apaziguados, está na pressa de concluir tarefas, desde as mais simples até as mais complexas, desde que não estejam inclusas naquela gama de atividades prazerosas que falamos antes. A pessoa não pula de galho em galho , mas deixa cair o excesso de coisas que carrega nas mãos, dá topadas, e detesta fazer varias viagens com as compras quando chega do supermercado, por exemplo, mesmo que as tantas sacolas estejam acabando com suas mãos e colunas. O excesso de pensamentos executivos está sempre com ele.
Há quem chame o transtorno de TDE (transtorno de disfunção executiva). Isso explica, numa visão macro da questão, a disfuncionalidade cerebral, e numa visão mais corriqueira, as topadas e ainda os tantos projetos que ficam pelo caminho com um nível baixo de realização ou longevidade. Só não explica a destreza e o detalhismo em realizar funções quando estão motivados. É como dizer que uma pessoa que tem hiperfoco tem, ao mesmo tempo, déficit de atenção.
Portanto, entendendo que a hiperatividade é sempre cerebral e a impulsividade, no mínimo também, ofereço minha perspectiva de que um título que explique o básico do transtorno, para leigos ou não, contribuiria mais com a eficiência do diagnóstico e com o tratamento, do que o contrário. Sendo assim, concluo esse texto com minha contribuição: TIDHI (transtorno de insuficiência dopaminérgica, hiperatividade e impulsividade), título que a meu ver responde o que interessa, “o que causa o transtorno e o que o transtorno causa”.