A ideia de que a linguística está fundada no conceito de que a linguagem é viva e se movimenta através de signos e sentidos, leva a compreensão de que a comunicação é fluida e mutante, ou seja, uma palavra pode sofrer mudanças fonéticas, escritas e até mesmo de sentido.
Identificar palavras que nos constrangem ou nos imobilizam, ou apenas nos dificultam a caminhada e observá-las com outra perspectiva, digamos mais leve e positiva, poderia aliviar o peso de muitas situações, basta encontrar novos sentidos, e que isso tudo faça sentido. Por exemplo, a palavra “esforço”, o quanto de peso e resistência ela carrega em si. Quando alguém lhe diz que você tem que se esforçar por algo, o quanto de negativo está implícito nessa sentença. Mas se observarmos que parados os nossos corpos estão exercendo o máximo de seu peso e que basta um simples impulso ao movimento para que ele se torne mais leve, o sentido de esforço já não me parece negativo. Exemplo: Qual a distância que uma pessoa em estado deprimido, deitada em posição fetal na sua cama, está de um banho frio? O banheiro pode estar a poucos metros dela, mas e a distância psicológica? Mas e se considerarmos a palavra “esforço” como um aliado vital pra vida, que numa análise básica se traduz como “movimento”? É preciso algum esforço para o movimento se tornar real.
Vamos pensar com cuidado na palavra “medo”. Usei o termo “cuidado” porque em si ele já sugere algum nível de medo, próprio a quem quer se defender de algo. Com a palavra “defesa” também acontece isso. Quando uma pessoa está se defendendo de algo, alguém pode interpretar que ela está com medo. Ora, os nossos sentidos nos servem constantemente como escudos de defesa caso algo ou alguém ameace nossas vidas. A audição, o olfato, o paladar, a visão, o tato… Eles estão em alerta mesmo que não precisemos pensar neles, mas se realmente alguma ameaça se torne, até mesmo somente uma possibilidade, eles se farão presentes. As reações são variadas, claro, às vezes paralisamos, às vezes corremos, ou às vezes fugimos pra dentro de nós mesmos. Quando o medo mostra as garras podemos dizer que não gostamos desse sentimento e queremos evitá-lo, mesmo correndo o risco de sentirmos medo do medo, e é aí que pode acontecer o prejuízo (pré-juízo). Mas se compreendermos o medo como nosso aliado, e o conjunto de sensações que ele produz como nossas defesas como algo positivo, talvez aumentem as chances de não paralisarmos frente a uma situação nova. Portanto, estamos, aqui, considerando o esforço como um aliado e afastamos o medo do medo.
Sabendo que o cérebro produz pensamentos que geram sentimentos e que se refletem em ações ou reações, o quanto que mudar (na prática) o sentido de duas palavrinhas tão comuns, mas com sentidos tão enraizados no nosso comportamento, pode nos aliviar do peso da inércia e de pensamentos negativos sobre o futuro?
Ter pelo que esperar, é ou não é muito melhor do que não ter? Então, “esperar” pode ser outra palavrinha interessante para trabalharmos. Se todo ser vivente espera estar vivo no próximo instante (e tem defesas para isso), desde a ameba que caminha para a luz do Sol, ou as plantas, ou os animais, porque costumamos dizer que estamos sem esperança? “A esperança é a última que morre” é uma expressão que faz muito sentido para mim. A esperança não precisa de consciência, isso é coisa da fé que é um impulso de energia confiante e consciente, a esperança é a mágica que faz vibrar a energia da existência, e é uma outra palavrinha que merece novas aplicações nos nossos pensamentos e comportamento. Por exemplo, lembre quando estiver chateado por estar esperando algo ou alguém, que ter pelo que esperar faz parte da existência, e que não ter é que é a pior opção. Portanto, na esperança temos o esforço e o medo como impulso e defesa, que nos possibilita a construção, ou melhor, o amor. “Só o amor constrói”, essa é também uma expressão bem vinda nessa perspectiva. Essa palavra merece destaque.
Uma molécula quando se une a outra constrói o universo, e isso merece uma palavra grandiosa: AMOR. Posso citar um poeta rebelde quando cantou: “O nosso amor a gente inventa…” e talvez isso possa servir de exemplo para o significado que essa palavra pode ter. O medo a gente já tem, e como já falamos, não deveríamos nos preocupar com ele, mas o amor a gente tem que inventar para torna-lo real. Estamos em busca do amor desde o parto. Naquele momento só temos o medo do desconhecido na forma de varias sensações e percepções estranhas, no espaço que nossos bracinhos experimentam pela primeira vez, na temperatura ambiente, sons, no ar inaugurando as vias respiratórias e invadindo nossos pulmões, até encontrarmos o colo da nossa mãe. Ela é o reconhecimento do amor, o conforto, o calor, a voz. O medo nos faz gritar, espernear, mas estamos em busca do amor, e e isso vai continuar por toda a vida. Podemos nos perturbar de inúmeras formas, mas temos esperança e criatividade porque estamos sempre em busca do amor, e que em sua expressão maior, irradia em alegria.
O Percurso Neoconstrutivo é, como o nome diz, um novo caminho de construção psicoterapêutica, uma perspectiva que observa obstáculos na vida do “ativo” (cliente ou paciente que está ativado, ou comprometido com seu processo), que dificultam seu acesso ao ânimo. Fortalecer a caminhada para torná-la mais interessante individual e coletivamente, enfrentando com mais potência os obstáculos.
A linguagem é um princípio para que a filosofia ensine que a reflexão estrutura a mudança, e assim os hábitos possam se alternarem de acordo com novos valores e prioridades, e não caiam nas armadilhas das vontades.
A técnica de observação SHAI (sono, higiene, alimentação e imagem), aponta condicionamentos automáticos que servem de iniciação para esse processo de mudança de hábitos. Prestar atenção no que sempre foi entregue ao piloto automático. Os detalhes que envolvem o sono, desde a posição que você dorme na maior parte do sono, ao colchão, o travesseiro, até o sentimento predominante do sonho no instante de acordar. Ter essa atenção somada ao esforço de enfrentar o movimento com o propósito de acessar o ânimo, pode mudar todo o seu dia. Com a higiene o mesmo “esforço” de atenção, percebendo detalhes sobre a manutenção da saúde da sua pele, limpezas, etc. São uma serie de pequenas atitudes corriqueiras que quando saímos do automático, assumimos as rédeas do momento. Atenção plena. Os horários que tomamos água (ao acordar, antes das refeições, depois do banho, um tempo antes de dormir e em outros momentos aleatórios), e o que comemos. E nossa imagem… Se a que você vê no espelho (sua imagem no mundo) é congruente com a percepção que você tem de si mesmo. SHAI é uma ferramenta de autoconhecimento que funciona como um exercício para que possamos lidar com grandes mudanças com menos resistência.
O livro que leva este mesmo título está no forno com textos fundamentados em pesquisa bibliográfica inspirados na Gestalt Terapia de Fritz Perls e no Existencialismo de Jean-Paul Sartre, entre outras influências, como em Martin Buber e Carl Rogers, porém, com o propósito de encontrar convergências entre eles, levantadas como hipóteses, ou possibilidades de construção de uma vida melhor. Mudanças são movimentos vitais, e podem começar pela prática de mudar hábitos. Vamos debater sobre a potência de enfrentar o futuro e as angústias? O que você quer mudar?